quinta-feira, janeiro 14, 2010

A História de Viscos

Há muitos anos, um ermitão — que mais tarde seria conhecido como São Savin — morava numa das cavernas de Viscos, uma das pequenas cidades dos Pirineus.




Naquela época, Viscos era apenas um posto na fronteira, povoada por bandidos foragidos da justiça, contrabandistas, prostitutas, aventureiros que vinham em busca de cúmplices, assassinos que ali descansavam entre um crime e outro. O pior deles, um árabe chamado Ahab controlava a cidade e os seus arredores, cobrando impostos extorsivos dos agricultores que ainda insistiam em viver de maneira digna.



Um dia, Savin desceu da caverna, chegou à casa de Ahab, e pediu para pernoitar. Ahab riu:



“Você não sabe que sou um assassino, que já degolei várias pessoas em minha terra, e que sua vida não vale nada para mim?”



‘Sei’, respondeu Savin. “Mas estou cansado de viver naquela caverna. Gostaria de passar, pelo menos, uma noite aqui”.



Ahab conhecia a fama do santo, que era tão grande quanto a sua, e isso o incomodava — porque não gostava de ver sua glória dividida com alguém tão frágil. De modo que resolveu matá-lo aquela mesma noite, para mostrar a todos quem era o único e verdadeiro dono do lugar.



Conversaram um pouco. Ahab ficou impressionado com as palavras do santo, mas era um homem desconfiado, e já não acreditava mais no Bem. Indicou um lugar para que Savin pudesse deitar-se, e ficou amolando sua faca, ameaçadoramente. Savin, depois de observá-lo por alguns momentos, fechou os olhos e dormiu.



Ahab amolou a faca a noite inteira. De manhã, quando Savin acordou, encontrou-o aos prantos ao seu lado.



“Você não teve medo de mim, e nem me julgou. Pela primeira vez, alguém passou a noite ao meu lado confiando que eu poderia ser um homem bom, capaz de dar hospedagem aos que necessitam. Porque você acreditou que eu podia agir direito, eu assim agi”.



A partir daquele momento, Ahab abandonou sua vida criminosa, e começou a transformar a região. Foi então que Viscos deixou de ser um posto fronteiriço, cheio de marginais, para tornar-se uma cidade importante no comércio entre dois países.

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